Carta ao Leitor

Petrópolis como pólo da tortura

Quase todo brasileiro do norte ao sul, atualmente convive com uma parte  histórica encoberta de nosso país.

É interessante que tenhamos tantos dados desde quando as terras brasileiras começaram a ser colonizadas, porém, fica incompreensível como um tempo tão curto (para os padrões de uma história de 500 anos) pode conter manchas tão profundas que a sociedade ainda não consegue limpar.

De 1964 a 1985, o Brasil atravessou a sua “Idade das Trevas”. Nem a Inquisição, que queimava inocentes vivos pela culpa de um poder ilusório de uma religião, conseguiu em terras tupiniquins, levar ao medo tamanho número de descontentes com o poder vigente que não pediu linceça nem perdão.

Não se pode esquecer a tortura sofrida por aqueles que dividiram a angústia de uma senzala. A escravidão é outra mancha que incorporou uma herança nacional de culpa e vergonha por tudo aquilo que foi feito a vários dos povos que hoje são parte ou, quase sempre, o todo da identidade e do rosto nacional.

A tortura como forma de castigo e repressão humilha não apenas o corpo, como também a mente. Transforma em trapo humano aquele que dela sofre. A ruína com a dignidade e a moral de qualquer ser humano padroniza pelo lado negativo um grupo ou classe que não está de acordo com as intenções das instituições dos maiorais.

A ditadura brasileira foi, não se pode negar, uma estagnação política e uma época desumana por parte dos governos militares.

A casa de tortura de Petrópolis foi, entre vários desses porões obscuros, um instrumento de repressão equivocada que fez desaparecer vidas que optaram por lutar por um país que, hoje percebemos, conseguiram nos deixar. Há os que escaparam, não sem traumas, e até hoje continuam em uma luta por justiça.

Essa é a história de uma dessas pessoas que, por optar pela luta, acabou pagando um preço muito caro.

Inês Romeu foi torturada covardemente na situação de presa política, durante meses, enquanto esteve presa na casa de Petrópolis. Nem mesmo a morte lhe foi possível para escapar das garras da condição humilhante a que foi submentida. Sua irmã, Lúcia Romeu, jornalista que acompanhou corajosamente toda a situação limite em que sua Inês viveu, teve um motivo mais que pessoal para relatar com precisão o fato. Sua matéria é uma denúncia, que ainda aguarda respostas. Inês saiu com vida, mas nunca mais a mesma.

É possível que, somente através de atitudes corajosas como essas, possamos, aos poucos, limpar as manchas negras da nossa história, sem jamais esquecê-las.

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