Archive for the ‘Uncategorized’ Category

Só um lado?

dezembro 15, 2009

Maria Helena Gomes de Souza, viúva de Amílcar Lobo, dá o seu depoimento para o site da revista ÉPOCA.

O caso Amilcar Lobo em reportagem

dezembro 15, 2009

“O divã pelo avesso”

Wilson de Lyra Chebabi conversa sobre Amilcar Lobo.

(clique na imagem)

Helena Besserman Vianna continua presente

dezembro 15, 2009

Para ler a reportagem clique na imagem.

MST divulga texto sobre a vida da teatróloga Heleni Guariba

dezembro 15, 2009

Livro “Ministério do Silêncio”

dezembro 15, 2009

A seguir, você pode acompanhar parte da pesquisa do jornalista Lucas Figueiredo, baseada em mais de 20 quilos de documentos. Figueiredo traz a primeira história do serviço secreto no Brasil passando pelos anos da ditadura onde Inês Romeu aparece como uma das “personagens”. Para acompanhar parte do livro, clique sobre a imagem.

Grupo Tortura Nunca Mais divulga dados de desaparecidos

dezembro 15, 2009

O Grupo Tortura Nunca Mais foi fundado em 1985 por ex-prisioneiros políticos e familiares de presos políticos que viveram situações de tortura durante o regime militar e por familiares de mortos e desaparecidos políticos com o intuito de conclamar a sociedade brasileira pelo pedido dos Direitos Humanos e da Justiça para que se resolvam as pendências que a Ditadura ainda guarda aos brasileiros. Abaixo, em cada foto, você encontra os prisioneiros políticos que foram torturados na “Casa de Tortura de Petrópolis” e que, depois disso, desapareceram ou têm suas mortes ainda não explicadas. Clicando na foto, você tem acesso à página resumida do caso de cada um.


Como sabemos, estas quatro pessoas não foram as únicas. Suas histórias estão em parte disponibilizadas na internet através de depoimentos de presos sobreviventes como Inês Romeu. Outras tantas pessoas, as quais as famílias e amigos reivindicam maior busca por dados e documentos, estão ainda à margem da voz pública, não da Justiça.

Inês envia carta à Jornalista

dezembro 15, 2009

A seguir, Inês envia carta ao Sr. Marcos Sá Corrêa sobre assuntos discutidos nas páginas do jornal sobre o caso “Casa de Petrópolis” e a resolução da justiça. O trecho foi encontrado na internet e não tem a segunda parte disponível.

Novo post

dezembro 15, 2009

A CASA DOS HORRORES E O MÉDICO DA TORTURA

dezembro 15, 2009

UMA DENÚNCIA IRREFUTÁVEL – LÚCIA ROMEU

A existência da casa clandestina de tortura mantida pelos agentes da repressão na cidade serrana de Petrópolis (RJ), nos anos de chumbo da ditadura militar, era de meu conhecimento desde 1971. Naquele ano, de 8 de maio a 11 de agosto, minha irmã Inês Etienne Romeu lá fora mantida em cárcere privado, sendo barbaramente torturada, seviciada, estuprada e obrigada a me denunciar como subversiva. Eu tinha, portanto, uma motivação sobre-humana para revelar à opinião pública toda a covardia e sordidez que ela sofreu quando a oportunidade se apresentasse.

Foi necessária uma enorme paciência. A denúncia só poderia ser feita depois que Inês saísse da prisão para não colocá-la em risco. Ela cumpriu pena até 29 de agosto de 1979, no Instituto Penal Talavera Bruce, em Bangu, no Rio, saindo por força da Lei da Anistia. Foi a última, dentre todos os presos políticos, a ser libertada. Finalmente, em fevereiro de 1981, passados quase 10 anos dos tormentos vividos na casa de Petrópolis, apareceu a oportunidade. A revista IstoÉ, onde eu fazia free-lance, deu-me plena liberdade para apurar e redigir as matérias que foram publicadas sob os títulos “A casa dos horrores” e “A torturada fala com o médico da tortura”.

A apuração, na verdade, começou com a própria Inês. Presa em São Paulo pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, em 5 de maio de 1971, foi transferida para o Rio e, a seguir, de olhos vendados, para a casa onde passaria mais de três meses. Durante o cativeiro, ela registrou na memória os codinomes de seus torturadores e do médico que a atendera, além dos nomes dos presos políticos que por lá passaram e foram executados. Num determinado dia, ouviu o número do telefone da casa. Em outro momento, descobriu que estava em Petrópolis. Também viu no local o dono da casa e guardou seu nome: Mário. Quando conseguiu ter o primeiro contato com sua família, no dia 11 de agosto, Inês estava um trapo humano, destroçada, mas lúcida e com as lembranças vivas do que soubera e presenciara.

Assim, com a ajuda de nossa irmã Geralda, que a acolheu quando conseguiu sair do cativeiro, Inês redigiu um relatório sobre tudo que acontecera. Esse relatório de 1971 foi a base da apuração feita tantos anos depois. O primeiro passo consistiu em descobrir o endereço do centro clandestino de tortura a partir do número do telefone e do nome do dono do imóvel. Por óbvias razões de segurança – além de irmã de Inês, eu respondera a Inquérito Policial Militar –, fiquei de fora dessa fase inicial. Mas uma pessoa teve um papel fundamental: o jornalista Antônio Henrique Lago, que pesquisou em catálogos antigos de Petrópolis, na Biblioteca Nacional, e encontrou o número guardado por Inês, associado ao nome de Mário Lodders.

Lago havia feito anteriormente uma reportagem para a Folha de S. Paulo, intitulada “A repressão à guerrilha urbana no Brasil”, em conjunto com a jornalista Ana Lagôa. Era baseada numa entrevista em off com o coronel Adyr Fiúza de Castro, que foi chefe de Polícia do I Exército, comandante da VI Região Militar, integrante do Centro de Informações do Exército e responsável pela montagem do sistema repressivo nos anos de 68 e 69. Entre outras informações, ele revelou que os militares usavam aparelhos clandestinos e deu como exemplo a casa de Petrópolis. Inês leu a reportagem, quis conhecer seu autor e mandou-lhe um recado para que a visitasse na prisão. Lago foi vê-la várias vezes, até que um dia ela lhe perguntou se ele poderia ajudar na descoberta do endereço da casa e revelou que tinha o número do telefone. Ele assim o fez.

Fez mais: um tempo depois, foi ao local com um fotógrafo e descobriu que Mário Lodders tinha, na verdade, duas casas na mesma rua. Uma onde morava com uma irmã, e outra, a cem metros, que cedera para ser o centro clandestino de tortura. A pretexto de estar fazendo uma reportagem turística, Lago fotografou as casas e seu próprio dono. Depois, levou as fotos para Inês, que reconheceu Mário Lodders e onde ficara. Confirmado assim o endereço, Lago, a pedido de Inês, fez um contato com a OAB, na época presidida por Eduardo Seabra Fagundes, que a visitou em seguida na prisão, acompanhado de mais dois advogados. (…)

Assim que saiu da prisão, Inês foi à OAB, onde deu um depoimento formal e recebeu apoio para fazer a denúncia. Combinado o dia da ida a Petrópolis, 3 de fevereiro de 1981, a convocação de alguns órgãos da imprensa foi feita pela própria OAB. Foram chamados os jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, o Jornal do Brasil e a Tribuna da Imprensa; a TV Globo e a TV Bandeirantes; e algumas rádios, entre elas, a Rádio JB. Eu fui cobrindo pela revista IstoÉ.

A pauta passada referia-se a uma denúncia de tortura, sem detalhes, para preservar a segurança de Inês. Na verdade, dentre os jornalistas, só Lago e eu sabíamos do que se tratava. Também por uma questão de segurança, a avaliação feita foi a de que a denúncia teria que ser veiculada no mesmo dia e para isso era decisivo o papel de rádios e TVs. Naquele momento, Lago já tinha saído da Folha de S. Paulo e estava como chefe de reportagem da TV Globo.

Com Inês, fomos em caravana para Petrópolis na manhã de 3 de fevereiro, uma terça-feira. “A cena foi dramática.” Assim descrevi na abertura de meu texto para IstoÉ o encontro de Inês com Mário Lodders. Na frente de todos, Inês o reconhecera e ele acabou admitindo, depois de negar, que a conhecia também. As rádios noticiaram, a Band também, e a matéria foi ao ar à noite no Jornal Nacional, já então líder de audiência. Segundo Lago, “foi a primeira vez que o Jornal Nacional veiculou uma denúncia da ação clandestina da repressão”. A matéria divulgada, de quase dois minutos, mostrava o encontro entre Inês e Lodders, com som ambiente. No dia seguinte, os jornais também destacaram a notícia.

Naquele momento, Inês já sabia, por conversas anteriores com outros presos políticos, a verdadeira identidade do médico que a atendera no cativeiro com o codinome de Carneiro: o psicanalista Amílcar Lobo. Assim, dois dias depois da denúncia da casa, fomos – Inês, o então deputado federal Modesto da Silveira, o fotógrafo A. Fontes e eu – de surpresa ao seu consultório no sofisticado bairro de Ipanema, na Zona Sul do Rio. O Carneiro era o Lobo. Frente a frente com Inês, em tenso diálogo, ele confirmou que fora convocado a ir ao “aparelho” de Petrópolis como tenente-médico do Exército. Com um gravador escondido, registrei toda a conversa para IstoÉ. Perguntei-lhe se sabia que lá era uma casa onde se torturavam presos, e Lobo aquiesceu com a cabeça.

Depois que saímos de lá, avaliamos que seria temerário guardar essa informação por quatro dias. Estávamos numa quinta-feira, dia de fechamento da revista, que só estaria nas bancas no domingo. Inês, então, procurou o Comitê Brasileiro de Anistia, que divulgou a denúncia. À noite, no último telejornal da Globo, Amílcar Lobo já aparecia na tela confirmando tudo. A repercussão foi grande.

No domingo, 8 de fevereiro, IstoÉ circulou com as duas reportagens, com edição de Antônio Carlos Fon. O diálogo entre o médico da tortura e a torturada era exclusivo da revista e foi chamada de capa. Os jornais passaram a investigar e a publicar os verdadeiros nomes de alguns torturadores cujos codinomes foram revelados no encontro entre Inês e Lodders em Petrópolis. A resposta dos comandantes militares veio forte. Eles divulgaram duras notas condenando o revanchismo, mas, pela primeira vez, não negaram a tortura. Afinal, ela havia sido confirmada por um dos seus, o tenente-médico Amílcar Lobo. A capa de Veja, de 18 de fevereiro, foi uma foto do então ministro do Exército, Walter Pires, com o título “A reação dos militares”. Na mesma semana, O Pasquim publicou a íntegra do relatório feito em 1971, já atualizado com as novas descobertas.

A coragem de Inês e a atuação de Lago foram decisivas para que tudo isso fosse revelado. De IstoÉ, recebi total apoio de Maurício Dias, então chefe da sucursal Rio, e de Aluízio Maranhão, que ficou comigo até alta madrugada, no dia do fechamento da edição. Sua presença solidária deu-me tranqüilidade para escrever e foi ele quem aprovou os textos, assim que coloquei o ponto final. Em última instância, o mérito foi também de Mino Carta, diretor de redação, que deu a todos nós liberdade para levar adiante a denúncia.

Fonte: Observatório da Imprensa

O CORDEIRO ERA O DOUTOR LOBO, parte III

dezembro 15, 2009

Identificado por Inês, o psicanalista Amílcar Lobo admitiu: foi convocado pelo Exécito para atender os presos políticos que sofriam torturas.

Quase dez anos depois de sua passagem pela casa da rua Arthur Barbosa, em Petrópolis, Inês Etienne Romeu e o medico e psicanalista Amílcar Lobo – que lá atendia pelo codinome de carneiro – voltaram a se encontrar, quinta-feira passada. Do tenso reencontro participara, também, o deputado Modesto da Silveira (PMDB-RJ) e a repórter Lúcia Romeu, da ISTOÉ, Abaixo, seu diálogo:

Inês. Dr. Lobo, eu acho que conheço o senhor. Meu nome é Inês Etienne Romeu e eu estive com um médico chamado Dr. Lobo na casa de Petrópolis. Outros presos políticos também o conheceram na PE da Barão de Mesquita.

Modesto. O senhor esteve naquela casa em Petrópolis, não é verdade?

Lobo. Eu fui convocado. Eu não fiz o serviço militar e, após terminar o curso de Medicina, fui convocado pelo Exército. O que se está levantando é um assunto muito sério: que eu teria participado da tortura. Minha função lá foi exclusivamente de atendimento médico.

Modesto. Isto Inês confirma.

Inês. O senhor tratou da minha perna (mostra a perna) que estava com uma parte de carne apodrecida. O senhor conseguiu cortar a carne.

Lobo. Não tenho lembrança, não. Eu me recordo de ter tratado de uma pessoa…

Inês. De uma moça machucada. Eu tive um desastre, um atropelamento, estava fisicamente arrasada. Eu tive uma tentativa de suicídio, então o Dr. Bruno, o Dr. Teixeira…

Lobo. Lembro-me de uma tela para uma plástica que arranjei para recuperação do tecido de sua perna.

Inês. O senhor disse que eu deveria ser transportada para um hospital. Esse é o meu depoimento real, eu sou uma pessoa com muita responsabilidade e não vou inventar nada sobre ninguém. Eu tive vários atendimentos pelo senhor.

Lobo. É muito importante dizer que uma coisa que não fiz foi ter torturado.

Inês. Eu não disse isso, em nenhum momento.

Lobo. Ajudei muita gente…

Modesto. Naquela casa, não?

Lobo. Naquela casa, não. Lá só estive com ela. Ajudei muita gente, posso chamar várias pessoas. Eu nem sei onde é esta casa, eu era levado lá encapuzado. A confiança que tinham em mim era tão pouca… Lembro-me de que a gente subia uma ladeira e era uma casa no final de uma rua.

Modesto. É isso mesmo.

Lobo. Se eu tiver que ir lá, eu não sei.

Modesto. Quais eram as pessoas que estavam lá, com as quais o senhor entrou em entendimento?

Lobo. Eu recebia ordens do Comando do I Exército, recebi ordens do comandante da época.

Modesto. Quem era o comandante na época?

Lobo. Coronel Homem de Carvalho ou Nei Antunes, não me lembro bem.

Modesto. O senhor chegou a ficar lá quanto tempo?

Lobo. 1970, 1971. Seis meses no Forte Copacabana, em 1970, e depois fui para o I Batalhão da Polícia do Exército, onde fiquei até o final de 1971.

Modesto. A ordem que o senhor recebia era escrita ou verbal?

Lobo. Verbal.

Modesto. Era diretamente do comando?

Lobo. Era.

Lúcia. O senhor sabia que estava em Petrópolis?

Lobo. Sabia. O capuz foi colocado lá.

Inês. Além do atendimento da perna, do ventre, da bacia, desses pontos aqui na minha mão e também um exame de pulmão, houve um dia em que o Dr. Pep…

Lobo. Lá, a única coisa que me disseram foi que esses seus ferimentos foram porque você foi atropelada por um ônibus.

Inês. Isto é verdade.

Lobo. Disseram-me que ela foi presa e se jogou debaixo de um ônibus.

Inês. Um dia o Dr. Pep e o dr. Teixeira – eu os conheci com esses codinomes – o levaram lá e o senhor me aplicou algumas injeções, que eles me disseram ser Pentotal. Eles iam fazer um interrogatório.

Lobo. Não é verdade.

Inês. É verdade. O senhor pode não se lembrar, mas é verdade. O dr. Lobo nunca conversou comigo. Ele só se dirigia ao Dr. Pep, ao dr. Teixeira ou ao dr. Bruno.

Lobo. Eu não sei quem eram.

Modesto. O senhor poderia descrever o tipo físico de cada um deles, por exemplo?

Lobo. Um deles era alto, magro, branco, cerca de quarenta anos.

Inês. Tinha um gordo que no dia em que o Dr. Lobo me fez uma transfusão de sangue…

Lobo. Eu não fiz essa transfusão.

Inês. Foi aplicado no dia em que eu cortei os pulsos, eu perdi muito sangue. Então de madrugada…

Lobo. Eu não fiz isso. Me lembro de ter tratado de sua sutura…

Inês. Eu fui tratada pelo mesmo médico. O senhor era chamado de dr. Carneiro. O seu nome de guerra lá era dr. Carneiro.

Lobo. Eu não sei disso.

Inês. Chamavam o senhor de dr. Carneiro na minha frente. Se o senhor não se lembra, eu me lembro.

Lobo. Minha posição é uma posição de esquerda, podiam até me chamar de dr. Satanás… Eu não me lembro de ter feito essa transfusão de sangue. Só atendi ao ferimento.

Lúcia. O senhor sabia que lá era uma casa onde se torturavam pessoas, onde sumiam presos?

(Lobo balança a cabeça, e diz que sim)

Modesto. O senhor chegou a registrar esse fato em algum dossiê, em alguma ficha, algum diagnóstico?

Lobo. Não.

Modesto. O senhor comunicou esses fatos às autoridades médicas ou ao exército?

Lobo. Eram autoridades do exército que me mandaram lá.

Modesto. Então o senhor não comunicou a ninguém?

Lobo. Não.

Modesto. O senhor já descreveu uma pessoa. E as outras?

Lobo. Um tinha estatura mediana, era forte, moreno claro. É difícil lembrar porque se passaram muitos anos.

Modesto. Tem dez anos, mas como era um fato muito inusitado, naturalmente o senhor marcou…

Lobo. Eu chegava lá em estado quase de transe, quase de automatismo.

Modesto. O senhor ficava muito tempo lá, só no dia das operações que o senhor fez em Inês… Foi uma coisa muito longa.

Lobo. Duas horas, no máximo. Fiquei o tempo todo dentro do quarto.

Inês. O tratamento desse ferimento foi uma única vez, O senhor fez a raspagem, mas o senhor foi lá outras vezes.

Lobo. O tratamento desse ferimento tenho registro na minha memória…

Inês. Mas eu estive com o senhor em três cômodos diferentes da casa. Uma vez foi na despensa, outra no corredor e uma terceira vez o senhor auscultou meu pulmão num quarto.

Lúcia. Gostaria que Inês rememorasse a cena em que o dr. Lobo lhe aplicou o Pentotal já que ele não se lembra.

Lobo. Não é que eu não me lembre, eu nego isso.

Lúcia. O senhor nega, mas eu quero que Inês reproduza na sua frente tudo o que aconteceu.

Lobo. Posso ter aplicado nela um soro. Glicose. Nunca Pentotal.

Inês. O dr. Lobo não participou do interrogatório. Quem fez perguntas foi o dr. Pep e o dr. Teixeira.

Lobo. Pode ter sido aproveitado esse instante para você se iludir que estava sendo aplicado em você o Pentotal. Nesse sentido, eu admito.

Lúcia. E a agulha na veia?

Lobo. Posso ter aplicado uma glicose, uma coisa assim.

Inês. Foram várias aplicações.

Lobo. Posso ter aplicado medicamento.

Modesto. Esse ferimento da perna (aponta lugar da cicatriz) precisava de um inxerto porque ficou faltando bastante carne. Eles não permitiriam fazer um inxerto na época?

Lobo. E sugeri isso.

Lúcia. Dr. Lobo, o senhor se recusou alguma vez em fazer esse tipo de atendimento?

Lobo. Você está louca?

Lúcia. O senhor tinha medo, então?

Lobo. Três vezes tentei me desligar do exército, numa das vezes me responderam que o requerimento tinha ido para na 6ª seção e o exercito só tem cinco seções.

Lúcia. Isso quer dizer que o pedido não foi considerado.

Lobo. É.

Modesto. O senhor não se lembra do nome das pessoas da casa, nem mesmo do tipo; foi muito vaga a descrição que o senhor fez. Mas aqueles que levaram você de automóvel até Petrópolis, quem eram?

Lobo. Um era baixo, forte, tinha uma fala nordestina, era um tipo meio estranho, acho que por causa da coloração da pele, avermelhada. Tinha cerca de trinta anos, e ia dirigindo o carro.

Modesto. E o nome dele.

Lobo. Não sei.

Lúcia. E as conversas deles no carro durante o trajeto?

Lobo. Eram pessoas rudimentares, de nível primário, no máximo ginasial.

Lúcia. Quantos havia no carro.

Lobo. Dois. Eu fui recostado no banco fumando. Não participei da conversa.

Modesto. E o outro?

Lobo. Era amulatado e mais forte que o que ia no banco da frente. Este estava atrás comigo. Tinha também perto de trinta anos.

Modesto. Como é que os senhores se tratavam na viagem?

Lobo. A única coisa que me lembro é que, chegando em Petrópolis, eles me disseram que estavam cumprindo ordens e me encapuzaram. Quando chegamos em frente a casa eles tiraram o capuz.

Modesto. Então o senhor viu a casa pelo lado de fora também?

Lobo. Lembro de que tem uma varanda na frente, a sala tinha uma lareira.

Modesto. Por uma foto o senhor reconheceria.

Lobo. Sim. Lembro de que entrei no quarto menor que aquele em que você estava (dirigindo-se a Inês). Ficava a direita…Da outra vez que estive com você eu entrei no corredor a esquerda, no quarto a esquerda.

Inês. Exato. A direita tinha uma copa pequena, um banheiro e logo a seguir uma despensa. Onde havia uma cama de campanha.

Modesto. O senhor nos esclareceu que recebia ordens do comandante do I Exército, do comandante Nei Antunes ou do comandante Homem de Carvalho?

Lobo. Tenho a impressão de que foi o Homem de Carvalho.

Modesto. O senhor estava subordinado a quem na época?

Lobo. Diretoria de saúde.

Modesto. Mas subordinado a quem?

Lobo. Nunca tive contato com médico nenhum.

Modesto. Então o senhor ficava lá só servindo, cumprindo ordens do 1º Batalhão de Policia do Exército?

Lobo. É.

Modesto. Durante os dois anos que o senhor esteve lá atendeu quantas pessoas no exército? Centenas?

Lobo. Centenas, não. Eramos três médicos. Havia o médico do presídio…

Modesto. Presídio do 1º Batalhão?

Lobo. O presídio lá não era do batalhão, era do CODI-DOI. O Batalhão apenas emprestava as dependências. Eu era médico do Batalhão.

Modesto. E esse médico do presídio, quem era?

Lobo. Não sei, ele tinha codinome.

Modesto. Mas era um colega seu…Como é que o senhor sabia que era codinome?

Lobo. Eu supunha.

Modesto. Qual o nome que o senhor dava lá?

Lobo. Eu nunca escondi meu nome.

Modesto. E o terceiro médico?

Lobo. Dr. Ricardo Agnesi Fayad. Nós dois, na ausência do médico que usava codinome, atendíamos casos como o dela. Os responsáveis pela tortura que encontrei foram punidos.

Modesto. O senhor nos deu explicações…

Lobo. Esse é o tipo de ajuda que eu posso dar…Eu ainda sou oficial da reserva.

Modesto. O senhor é R-1?

Lobo. R-2.